“Falar de igualdade de género nos dias de hoje e sobretudo neste mês em que se comemora o Dia Internacional da Mulher parece ser algo extremamente banal. Qualquer pessoa se pronuncia e, de uma forma geral, o discurso dominante é o de que se registaram mudanças significativas no papel da mulher nas últimas décadas, sobretudo após o 25 de Abril.
De facto, do ponto de vista do discurso e da própria legislação em vigor as mudanças foram muitas. Mas do ponto de vista das vivências quotidianas, do tipo de papéis que a mulher assume fora de casa e em casa será que se registaram assim tantas mudanças? Será que a mulher ganhou efetivamente terreno no campo laboral? Se sim de que forma? As desigualdades salariais são ainda flagrantes, a precariedade laboral associada ao feminino é ainda e cada vez mais elevada, o desemprego atinge mais as mulheres, as taxas de pobreza são mais elevadas para as mulheres.
Estes dados incontestáveis fazem-nos questionar o que mudou e se a mudança que se verificou é efectivamente benéfica para as mulheres. Está comprovado que as mulheres estão hoje mais presentes nas faculdades e que a percentagem de mulheres com formação superior é muito elevada, mas está também comprovado que os cargos de chefia estão ainda desigualmente distribuídos entre os sexos e que para o desempenho da mesma função/cargo as mulheres são pior remuneradas que os homens.
Está também comprovado que são ainda as mulheres que assumem para si a função de cuidar dos filhos e dos seus ascendentes. Estas realidades revelam uma e a mesma coisa: as mulheres hoje acumulam mais papéis que há umas décadas atrás. No entanto, resta saber se o fazem por opção própria, convictas das suas opções ou se, pelo contrário, o fazem porque a mudança de mentalidades ainda não ocorreu e as conquistas que supostamente aconteceram ao nível do papel da mulher na sociedade são apenas uma pequena parte daquilo que ainda é preciso fazer” (Fátima Veiga - Socióloga do Departamento de Investigação e Projectos da EAPN Portugal).
De facto e olhando à nossa volta podemos facilmente descortinar diversas formas de perpetuar as desigualdades entre homens e mulheres. Tal como a autora deste texto afirma, a mulher, embora tenha conseguido algum espaço na esfera pública e tenha visto reconhecida legalmente a igualdade de género, o facto é que, socialmente, continuamos a ver papéis de género bem definidos e com grandes assimetrias.
Podemos até observar a contínua utilização da linguagem sexista nos discursos presentes na sociedade e a imagem do corpo da mulher a ser usado de forma abusiva, sem controlo.
Por estas e muitas outras razões, a igualdade de género é algo que está longe de ser alcançado, no entanto, não se devemos desistir de a alcançar.
Fonte: Setúbal em Rede,
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